Sentir o coração desnudo, tantos sentimentos à mostra, um monte de ilusões e apegos sendo dissolvidos, uma reviravolta imensa, e não contar mais com o que se desfez, nem ainda com o que está sendo tecido é mesmo assustador. Não há como retornar ao que já não existe nem como adiantar o relógio para se chegar rapidamente ao que ainda não é. Experimentar na própria alma a força terna e tecelã da vida, ao mesmo tempo em que nos sentimos tão frágeis, é um desafio que requer paciência, toda gentileza e muita fé. As novas flores já moram nos brotos, mas ainda não desabrocharam. A chuva de renovação está dentro das nuvens, mas elas ainda não verteram. A borboleta já voa na crisálida, mas ela ainda nem se deu conta direito da novidade de ter asas.
Ana Jacomo

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