Prefácio do Livro de DASA
Desde o início dos Alcoólicos Anônimos em 1935, os Doze Passos do
programa de recuperação desta irmandade têm sido adaptados a uma grande
variedade de problemas humanos, entre esses, jogo, compulsão alimentar,
fumo, abuso de narcóticos e de crianças.
Ao desespero generalizado da dependência, os Doze Passos trazem uma
elegante simplicidade. Seus princípios podem perfeitamente ser
universais. Não foram criados originalmente pelo A.A., mas encontram-se
em todas as religiões e nas mais importantes filosofias.
Os princípios são bastante simples: admissão da verdadeira fonte do
problema (adicção à própria atividade; confiança em Deus ou alguma outra
fonte de poder acima de nossos próprios recursos como guia para a
recuperação; boa vontade para inventariar os próprios defeitos de
caráter e compartilhar esse inventário com outro; disposição para
enfrentar as falhas de caráter básicas e fazer reparações a outros; e a
entrega a esses princípios como um modo contínuo de vida. O princípio
sintetizante, o Décimo Segundo Passo, é a afirmação da recuperação
pessoal através da aceitação da responsabilidade de exercer o
compromisso com esse modo de vida pela ação, compartilhando-a com
outros. E é aí que o verdadeiro amor, que é de Deus,
e que torna possível para uma pessoa tocar a alma do outro, é encontrado e expresso.
e que torna possível para uma pessoa tocar a alma do outro, é encontrado e expresso.
Dada a esfera de ação abrangente desses princípios, porque então
existe a necessidade de irmandades especiais que se dirigem a desordens
adictivas específicas? A resposta parece ser de que, apesar dos
princípios de recuperação codificados nos Doze Passos aplicarem-se além
de seus limites, em um nível prático (e totalmente humano) adictos
individuais tendem a pensar na dependência apenas em termos da
indulgência que eles não conseguem governar. As preferências adictivas
de outros dependentes podem parecer surpreendentes ou ameaçadoras. O
alcoólico, por exemplo, pode achar incompreensível a incapacidade de
controle do comedor compulsivo, ou até mesmo engraçado; o jogador
viciado que nunca sente desejo de beber em demasia porque o álcool o faz
sentir-se mal não pode compreender o alcoólico que bebe até ficar
doente, e depois recomeça; o comedor compulsivo que experimenta um ato
de amor e fica satisfeito não compreende os sentimentos do dependente de
amor para o qual nunca nada é suficiente. Cada dependente solitário,
faminto de compartilhamento, e aprisionado na necessidade compulsiva de
uma indulgência específica que cada vez aumenta mais o vazio interior,
tem um tipo de sofrimento que apenas alguém que tenha uma experiência
similar de adicção pode realmente compreender. Uma irmandade em que
possa realmente dizer "Sim, eu compreendo - eu também me sentia assim" é
uma parte vital do que torna possível a recuperação em cada faixa de
adicção. Daí a necessidade de irmandades específicas de Doze Passos para
cada tipo de dependência.
Agora, já existe esta Irmandade, Dependentes de Amor e Sexo Anônimos
(Sex and Love Addicts Anonymous), e este livro, baseado na experiência
dos que descobriram que, a necessidade humana básica de um estreito
relacionamento com o outro, combinada com a compreensão de suas
capacidades sexuais como uma expressão de comprometimento em tal
relação, pode ser degradada pela adicção numa busca compulsiva por sexo e
romance, ou pelo aprisionamento obsessivo em relações caracterizadas
por carências pessoais e super-dependência - em padrões que poderiam
impedir para sempre o encontro real da necessidade subjacente por uma
autêntica experiência de si mesmo e do outro. O adicto de sexo e amor
pode vir a substituir a excitação da aventura sexual ou a intensidade de
um "amor" pelas satisfações mais abrangentes, encontradas antes de mais
nada no auto-respeito, e depois realizadas com a família,
a carreira e a comunidade.
a carreira e a comunidade.
A fuga adictiva temporária de uma realidade dolorosamente percebida
pode ser cada vez mais procurada, até que a própria procura se torne um
impulso primitivo de sobrevivência, em cuja busca, tudo, incluindo-se a
auto-estima, seja sacrificado.
Alcoólicos Anônimos cresceu do princípio de que um alcoólico podia
manter a recuperação ao sair de si mesmo para ajudar a outro. Contudo, a
história também mostra que a mensagem de esperança e as linhas
diretivas para a recuperação podem ser compartilhadas em forma de livro,
assim como, através do contato pessoal. O princípio de levar a mensagem
do Décimo Segundo Passo assegura que os adictos solitários de amor e
sexo, desesperados por uma recuperação e armados apenas com um exemplar
deste livro, terão a oportunidade de encontrar aquela amizade e
fraternidade especiais com outros que é tão vital - tão revivescente.
Este livro não se limita a tomar emprestado de outras irmandades que
usam os princípios de Doze Passos: é uma personificação de nossa própria
experiência, desde a vida de uma pessoa que encontrou a recuperação e
as aventuras daqueles primeiros membros que lutaram pela honestidade
consigo mesmo contra esta frustrante doença que afeta a mente, até as
experiências daqueles que ficaram, aprendendo com os erros dos que se
afastaram.
Em 14 de janeiro de 1984, na primeira Conferência da Irmandade e de
Serviços doDASA (Sex and Love Addicts Anonymous), os adictos de sexo e
amor que haviam retornado à sanidade e à utilidade na sociedade e
comunidade humana através desse programa, julgaram que esse livro
continha de modo suficientemente verdadeiro uma mensagem de esperança e
recuperação e podia tornar-se o texto básico para os dependentes
anônimos de amor e sexo, capaz de ajudar os que ainda sofrem dessa
doença.
Aqueles dentre nós que viveram este livro desde o seu começo sabem
que seu real valor não será apreciado basicamente por profissionais da
saúde mental ou críticos literários. O mérito dessa mensagem será medido
por aqueles que por ela forem ajudados. Temos a esperança de que a
verdade dessa mensagem fale através das inevitáveis limitações dos
mensageiros. Nós a oferecemos com profunda gratidão pelo dom da
recuperação, pela experiência de dignidade pessoal, que nos veio através
desta Irmandade, agraciada por um Poder Superior a nós.
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